__________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ MUCABA ANGOLA C.CAÇ.2613: MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 1

2005-06-05

MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 1

O " SEMPRE FIXE "

Nunca escrevi um diário, talvez se o tivesse feito, hoje teria muita matéria para escrever as minhas memórias já um pouco apagadas, mas mesmo assim vou tentar tal como o título, escrever as minhas memórias, soltas!



Vou começar a partir da altura em que me considerei um combatente. Saí do " Sempre Fixe " Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro, em Campo de Ourique, Lisboa, com guia de marcha para o campo militar de Santa Margarida aí iríamos ter treino e adaptação à guerra Colonial ( guerra de guerrilha ) . Fui de Eléctrico (salvo erro) até a estação de Santa Apolónia, à nossa espera estava um velho comboio, com carruagens antigas, daquelas com vários camarotes e em que cada camarote tinha uma porta de saída para a rua, e um patinete exterior a todo o comprimento que dava passagem para todos os compartimentos.


Tudo aquilo era muito estranho, e fez-me lembrar como se estivesse no tempo da 2ª Guerra, (recordando alguns filmes que tinha visto ) saímos da estação já depois da meia-noite, naquilo que parecia um comboio fantasma pois a maioria das carruagens não tinha luz, alguns conseguiam dormir durante a viagem que durou, com as várias paragens, horas sem fim, não que houvesse passageiros para entrar ou sair , mas talvez porque não era um comboio prioritário e tinha que ceder a passagem a outros.


Chegamos ao apeadeiro que servia Santa Margarida, já com o sol romper, cada um pegou no seu saco e o caminho até ao Campo de Santa Margarida foi feito a pé, talvez para nos voltarmos a habituar às longas caminhadas que nos esperavam nos locais para onde nos mandariam para cumprirmos o nosso dever de soldados.

Chegados ao Campo Militar de Santa Margarida, cada um foi direccionado para as unidades a que iríamos pertencer, e respectivas casamatas, ao que seguimos depois para o refeitório onde foi servido o pequeno-almoço, café com leite e pão com marmelada.

A seguir ao pequeno-almoço foi feita a apresentação do comandante de companhia, a minha companhia iria ser comandada pelo capitão Carvalhais, oficial cuja presença impunha respeito, tanto pela idade como pelo seu porte de oficial de carreira. usava um pequeno pingalim com o qual estava quase sempre batendo na perna direita. Posso dizer que com aquele seu ar austero e autoritário, nos ensinou muita coisa sobre a guerra de guerrilha que iríamos enfrentar, posso dizer que os ensinamentos dele, (pelo menos a mim) de certo modo, me ajudaram a ser um sobrevivente, pois sempre que o grupo de combate em que me integrava, era alvo de um ataque da guerrilha imediatamente me vinha à memória as teorias de defesa e protecção do capitão Carvalhais.
Acabou por não nos acompanhar até Mucaba, pois parece -me que foi promovido e transferido para outro Batalhão.