__________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ MUCABA ANGOLA C.CAÇ.2613: MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 2

2005-12-15

MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 2


Estávamos então no campo militar de Santa Margarida, a instrução decorria normalmente. Fazia parte da instrução, abrir trincheiras, técnica que não iríamos aplicar, fazer tiro, lançar granadas, reagir a uma emboscada enfim, varias técnicas relacionadas com o que certamente iríamos encontrar, no local para onde nos mandariam, salvo erro, nessa altura já sabíamos que era para Angola.
Terminada aquela fase da instrução, mandaram-nos para casa uns dias, para fazer as despedidas e arranjar as malas com o essencial que nos acompanharia por cerca de dois anos, e até ao nosso regresso. Claro que esta era a melhor das hipóteses, porque a outra seria voltar-mos numa caixa de chumbo forrada por fora por linda madeira, e uma etiqueta com o conteúdo, que nem sempre correspondia ao que continha... a as nossas malas seriam posteriormente entregues à família, com uma bonita declaração de que o dono morrera honrosamente ao serviço da Pátria.

Mas voltemos aos nossos dias de férias antes do embarque que foram curtos, arranjamos a roupa civil queria-mos levar fotos das namoradas e de familiares mais chegados, algumas bugigangas que não nos iriam servir para nada e como já tínhamos a guia de marcha, no dia marcado lá estava-mos novamente na estação de Santa Apolónia. Esperava desta vez ter um comboio mais decente para nos levar até Santa Margarida.
Por via das coisas, e como pensei que voltávamos de comboio para Lisboa, para depois seguir em camiões do Exército para o barco, deixei a minha bagagem depositada na estação, todos os outros foram carregados com a bagagem, e eu a pensar que era mais esperto que eles. O comboio desta vez era um comboio mais decente. A viagem foi rápida até Santa Margarida, e no apeadeiro havia transporte militar até ao campo, estavam a tratar-nos melhor, ou então não nos queriam perder de vista...
Não me recordo bem... mas creio que nessa madrugada, 26 de Novembro de 1969, rumamos em camiões do Exército direitinhos ao Cais da Rocha, em Lisboa, onde já nos esperava o " Paquete Império ".