__________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ MUCABA ANGOLA C.CAÇ.2613: MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 14

2006-08-27

MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 14


DIA DO CORREIO

Onze horas no quartel de Mucaba, o Duarte está à porta do Posto de Rádio com o “Banana “ na mão, (o Banana era um Rádio portátil que tinha o feitio de uma grande banana) já naquela altura estava obsoleto, mas era o que havia, e como quem não tem cão caça com gato, diz o ditado popular, os radiotelefonistas caçavam com o Banana.

Cobra chama mosca, cobra chama mosca, escuto …mas a mosca estava surda ou estava fora do alcance de qualquer Banana, mas ele continuava… cobra chamando mosca alooo mosca cobra chama escuto, e o Duarte olhava para os lados da serra tentando vislumbrar alguma coisa que se parecesse com o mosca que era a pequena avioneta da FAP que nos levava o correio.

Então o rádio começava a crepitar e quase ao mesmo tempo ouvia-se o roncar longínquo do pequeno avião, e já se podia ouvir falar o Banana, mosca chama cobra, mosca chama cobra escuto, ROGER respondia o Duarte, escutado em perfeitas condições, vou mandar preparar a pista, passo à escuta… OK cobra dentro de 5 minutos estou por aí OK mosca aqui cobra, tudo correcto terminado. Entretanto como a pista de aterragem ficava a cerca de um quilómetro seguia de imediato um carro com três ou quatro homens para fazerem a respectiva segurança à pista, à aeronave e ao seu piloto.

Recebido o correio que chega, e entregue o correio para enviar, a avioneta levanta voo em segurança, e os homens regressam ao quartel, na secretaria separa-se o correio particular do correio oficial, o "nosso" Sargento sai da secretaria trazendo o esperado molho de certas aerogramas etç. Como de costume sobe à base do mastro da bandeira, com todos os camaradas que se encontram no quartel, à sua volta, e começa a ler os nomes de cada um que tinha correio, que respondia o habitual “pronto” e o Sargento vai lendo a seguir a cada “pronto”. A seguir começa a ler um nome e repentinamente para de ler, faz-se silêncio geral, o “nosso” Sargento guarda a carta no bolso da camisa, e escondendo a emoção continua a ler os restantes nomes, e a distribuir o resto do correio.

Naquele "dia do correio", a mosca trouxe uma carta que tendo chegado ao destino, já não encontrou o destinatário, possivelmente quem enviou aquela carta, terá recebido quem sabe, se ao mesmo tempo, a informação do Exército de que o seu ente querido tinha honradamente perdido a vida, ao serviço da Nação.
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AOS CAMARADAS QUE TOMBARAM EM TODOS OS CENÁRIOS DE GUERRA !