MEMÓRIAS SOLTAS DE UM EX-COMBATENTE 5

O ULTIMO OLHAR AO CRISTO-REI

Estava na hora, as escadas de acesso ao navio foram retiradas, fecharam-se as comportas, os motores entraram em funcionamento, e com um estremecer e roncar de motores o Paquete Império começou a afastar-se do cais ao mesmo tempo que entravam em actividade os barcos Pilotos da Barra, guiando o Império para águas mais profundas.

Lancei um ultimo olhar ao Cristo Rei e à ponte que então se chamava " Salazar " e hoje, Ponte 25 de Abril, e fiquei encostado à amurada até ver desaparecer a costa, agora já não havia volta pelo menos, por dois longos anos e mais alguns meses, isto, na melhor das hipóteses, porque até lá haveria muito que que calcorrear, isto se por acaso uma bala ou uma mina, não se atravessar no meu caminho.

E ainda havia os acidentes, que matavam tantos ou mais, dos nossos homens, que os nossos inimigos (amigavelmente chamados de "turras").

Fui para o porão arrumar as minhas coisas no camarote. Um pequeno compartimento com tês beliches, aonde quase que tínhamos que pedir licença aos outros para esticar as pernas, mas parece que os que estavam no outro porão de baixo, estavam um pouco pior.

Depois do almoço fui conhecer o resto do navio, até onde podia ir claro, passei pelo bar bebi uma Cerveja e continuei a minha exploração, sem querer fui parar à enfermaria, fiquei a saber que havia uma para os militares e outra para os tripulantes. Encontrei o enfermeiro de bordo que vendo as minhas insígnias do Serviço de Saúde, me disse que tinha que ser nomeado um enfermeiro militar para ocupar o cargo na enfermaria, e que eu poderia ficar que para mim era bom pois podia dormir lá, tinha ar condicionado, e não dava muito trabalho, bem dito bom feito, ele levou o meu número e nome, e assim fui nomeado enfermeiro militar de serviço, para toda a viagem.